ALTO-MINHO
L I M A, V E Z,
S I S T E L O,
C A S T R O
l A B O R E I R O,
M E L G A Ç O,
C E R V E I R A
C E R V E I R A
31-Outubro
Partimos
por volta das 18h00, quando fomos deixar a minha mãe a Alcântara detivemos com um monstruoso engarrafamento
por causa de mais um acidente nos acessos à ponte Salazar o que é normal e as
pessoas já se encontram formatadas para estas situações tão vulgares, para mim
um pesadelo que me faz perder a paciência. É por esta e outras situações que
fazem que eu diga mal da forma que se vive na nossa capital, pois sucede que
modifica o trânsito em muitas artérias da cidade, dificultando o dia a dia do
cidadão tão comum e infortunado por causa de uns artolas ou dois que provocam o
acidente por casmurrice e ou falta de atenção. Aconteceu que andei a fugir a
parte do engarrafamento por Monsanto, fazendo mais uma dúzia de quilómetros
minimizando a minha fúria. Então já partimos de Alcântara muito tarde e andamos
mais uma vez a fugir por Lisboa em ruas totalmente repletas de carros por causa
desta ponte que já deveria ter a seu lado uma outra ou o apoio de um túnel, mas
nisso de túneis, Portugal está na rectaguarda desta Europa, é que nem a começar
estamos, longe, longe.
Já eram
20h00 quando entramos na auto estrada em Sacavém, fomos circulando lentamente
mas sempre andar até perto do Carregado, foi aí que o trânsito começou a
desenvencilhar-se e os quilómetros foram-se consumindo. Começamos a pensar que
iríamos comer o nosso leitão, delicioso na tão famosa Casa Vidal em Almas da
Areosa. A Sofia telefonou a marcar e que podíamos chegar um pouco tarde, como
já tem acontecido, mas desta vez a resposta do outro lado da linha foi
negativa. Hoje estamos encerrados para o jantar, Mais outro azar para hoje,
agora que já estávamos a fazer as nossas contas, eis que saíram erradas,
tivemos de optar por uma segunda escolha, mas leitão não, porque só ali é que é
delicioso. A opção foi irmos até ao Leiria Shopping e comermos umas sandochas e
bebermos umas cervejas, foi a opção possível. Terminada tão ilustre refeição
foi percorrer os últimos quilómetros e abeirarmos à Mealhada onde seria o local
eleito para passarmos a nossa primeira noite nos Três Pinheiros, local onde se
pode descansar sossegadamente. Rapidamente chegamos e fomo-nos deitar a ver um
qualquer programa de televisão para acabarmos por adormecer e mais uma vez com
o som que nos embalou. Nada melhor do que adormecer com um programa do “faz de
conta”.
1-Novembro
Parece
que o dia de hoje vai estar fabuloso, uma temperatura agradável e um sol
radioso, bom começo do dia. Fomos tomar o pequeno almoço onde estivemos a falar
com o funcionário que é uma fulano castiço, apresentando-se com uma enorme
cabeleira com um penteado à antiga, não mais dos anos 60/70, conversas que
desvendam a sua vida e nos fazem acreditar que este homem está um pouco a viver
do passado, sendo ele um Portista de gema. Foi agradável o que conversamos.
Começamos
então a percorrer o resto do trajecto que nos leva até Ponte da Barca onde poderemos
almoçar, dependendo das horas a que cheguemos. Todo o percurso está a ser feito
apenas em estradas nacionais, abdicamos totalmente de andarmos em auto
estradas, sem dúvida valoriza a viagem, vamos circulando calmamente e
apreciamos a paisagem e as lindas vilas por onde passamos, até em Braga
passamos por ruas onde nunca pensaríamos passar, situação também resultante do
trajecto colocado no gps, em que coloquei, trajecto mais curto e evitando auto
estradas. Admirável percurso que fizemos até Ponte da Barca onde chegamos perto
das 12h30, hora excelente para encontrar um restaurante que nos enchesse as
medidas para deglutir um gostoso almoço. Estivemos a ver quais as opções desta
terra e logo, ali a 100 metros estávamos a entrar no restaurante “O Moinho”,
local simpático onde gostamos de estar. Sendo um sítio familiar onde se
juntaram neste dia os clientes do costume, velhotes e os senhores consagrados,
tais como o conde de Almostarda, marquês de bronze, ganha dez e gasta onze e a
madame pedrincalho e nó na fralda, famílias nobres, só podia ser. Ao longo do
nosso farto almoço, apreciamos toda esta movimentação que já não faz parte
destes anos de 2000.
De
seguida ainda demos mais umas voltas para ficarmos a conhecer um pouco mais
desta terra encantadora.
Após
pouco tempo de viagem, porque a distância é muito curta abordamos Arcos de
Valdevez, volta por aqui e volta por ali, resolvemos estacionar o carro e mais
umas voltas fomos dar a pé por esta vila, também um encanto desta linda
província minhota. Andamos a ver onde começa o tão badalado passadiço, mas não
conseguimos descobrir onde se inicia. Soubemos que aqui bem perto existe um
castelo a que dão o nome de Paço de Giela, dali a pouco já nos encontrávamos a
subir a ladeira para desbravar tão ilustre local. A nossa visita teve de
imediato inicio, subimos a escadaria que nos levou ao cimo da muralha de onde
tivemos uma visão das terras que rodeiam tão elegante ermo, este local
encontra-se de momento bem decorado por se ter na noite passada comemorado o
dia das bruxas, para nós portugueses o dia de todos os santos, não mais do que
o dia dos mortos. Agora como estamos muito internacionalizados ou
americanizados
o “dia das bruxas”. Este paço que eu lhe chamo de castelo foi construído no reinado de D. Dinis e em 1398, juntamente com a Terra de Valdevez foi doado a Fernão Anes de Lima, pai do lº visconde de Vila Nova de Cerveira, ou seja eu sou o 118º visconde de Cerveira e Arrabaldes, como podem saber ainda sou da estripe daquela gente tão manhosa. Podemos ainda ver um filme que retrata o recontro de Valdevez, acontecimento de 1141 que opôs Afonso Henriques a seu primo Afonso VII de Leão e Castela, episódio de estrema importância para a história de Portugal. Com tudo isto já estava a escurecer quando terminamos esta visita e regressamos à vila para depois irmos descansar na casa dos penedos em Fonte Arcada. Mais um dia maravilhoso nesta fuga ao Alto Minho.
o “dia das bruxas”. Este paço que eu lhe chamo de castelo foi construído no reinado de D. Dinis e em 1398, juntamente com a Terra de Valdevez foi doado a Fernão Anes de Lima, pai do lº visconde de Vila Nova de Cerveira, ou seja eu sou o 118º visconde de Cerveira e Arrabaldes, como podem saber ainda sou da estripe daquela gente tão manhosa. Podemos ainda ver um filme que retrata o recontro de Valdevez, acontecimento de 1141 que opôs Afonso Henriques a seu primo Afonso VII de Leão e Castela, episódio de estrema importância para a história de Portugal. Com tudo isto já estava a escurecer quando terminamos esta visita e regressamos à vila para depois irmos descansar na casa dos penedos em Fonte Arcada. Mais um dia maravilhoso nesta fuga ao Alto Minho.
2-Novembro
O despertar num ambiente de província é coisa que não
acontece todos os dias, silêncio, neblina da manhã, passarinhos a cantar e o cheiro de lenha
queimada, ficamos logo com as baterias super carregadas para o dia que aí vem.
Depois de um pequeno almoço numa pastelaria da terra
encaminhamo-nos para o tal passadiço que intitulam de Passadiço do Sistelo com
todo o esplendor do Tibete Português que está a causar furor entre os adeptos
de caminhadas e praticantes de ciclismo btt. Uma parte deste passadiço chamado
de Sistelo inserido na ecovia do Vez que passa pela aldeia que lhe dá o
nome, Sistelo, graça aos seus
socalcos construídos para aproveitar o
solo arável e com condições para sustentar o gado bovino da região. Esta aldeia faz parte da
reserva mundial da biosfera e candidata a património mundial da Unesco.
Já nos encontramos no início de um dos percursos, este
que começa em Arcos, partimos com a convicção de que vamos fazer alguns
quilómetros mas não muitos, pois a distância que nos separa da consagrada aldeia
é enorme e ainda para mais que não estamos neste momento preparados para tal
caminhada, mas partimos calmamente, passados poucos metros paramos para tirar
diversas fotografias do lago artificial que ladeia este local, há uma
quantidade relevante de neblina que faz enriquecer a paisagem dando um reflexo
na água espectacular. Pouco havíamos andando e deparamo-nos com uma placa a
informar que a ponte de Vilela está a 9,2km, vamos ver até onde iremos. Fomos
então caminhando lentamente apreciando toda a paisagem que nos rodeia, é
fantástica, sendo o arvoredo junto às margens do rio de uma beleza única,
seguimos rio acima contentes por hoje aqui estarmos. A determinada altura
deparamo-nos com um sinal de trânsito inédito “proibição do trânsito para
motos, cavaleiros e moto4” , na verdade ele não existe, mas é o aproveitamento
do sinal de proibição para lhes inserirem as três imagens. A maior parte das
árvores são salgueiros,
amieiros e choupos que se encontram ao longo da
caminhada e férteis pela quantidade de água e humidade que os rodeia, logo ali
ao lado cruzamo-nos com uma vaca da raça pisca que pastava na erva viçosa. Já
longe cruzamos a Ribeira de Parada, vimos um local para descanso dos veraneantes
caso se encontrem cansados ou que tragam a merenda, há uma mesa e bancos para
se sentarem. Já andamos uns bons quilómetros a Sofia já tirou lá atrás o casaco
e já se queixa que os pés lhes estão a doer, quer dizer que já está cansada, eu
apenas lhe disse vamos então só até à ponte de Vilela e voltamos para o ponto
de partida. Na ponte de Vilela paramos e tiramos umas fotos, andamos um pouco
mais e vimos uma vaca que estava a olhar para nós e para nosso espanto investe na
nossa direcção, estamos safos porque tem à sua frente uma vedação mas a cornuda
mesmo assim marra num dos postes e tivemos de nos afastar por causa da fúria
desta vaca.
Vontade não lhe faltava para nos dar umas valentes marradas.
Resolvemos retroceder e irmos para o carro que se encontrava muito distante. A
certa altura combinamos que eu ia indo à frente com passo mais largo e apanhava
a Sofia num local combinado, ela já não tinha força para caminhar mais com os
pés doridos. Terminamos inesperadamente esta caminhada, motivo, inexperiência
derivado a pouco andarmos no nosso dia a dia, mas fica combinado que vamos
voltar com outra disposição para irmos mais longe, veremos.
Agora que já estamos no Sistelo, vamos é tratar de
almoçar num local que nos seja agradável e onde possamos comer bem um dos
pratos de tão maravilhosa terra. Entramos na Tasquinha da Ti ‘Mélia, nome do
restaurante famoso e nos deliciamos com um naco de uma suculenta carne, uma
categoria o vinho foi-nos recomendado por uns sujeitos que se encontravam na
mesa ao nosso lado, pessoal cá da terra, bebemos um vinhão, tipo de vinho verde
da região, sem dúvida excelente. Gostamos de tudo, do lugar do atendimento,
entradas, carne e sobremesa, fantástico.
Agora com a barriguinha cheia temos de nos por ao caminho para desmoer os
excessos que acarretamos, foi então dar uma pequena volta pela aldeia e pôr-nos
a caminho para subir a serrania em direcção de Porta Cova, trajecto lindo onde
a paisagem é deslumbrante a aldeia é um presépio, com algumas casas e
espigueiros/caniços ainda bem conservados e os regos de água das nascentes a
correrem por serra baixo, seria excelente passarmos uma semana neste local tão
remoto juntamente com seus habitantes, muitas coisas iriamos aprender, é uma
ideia mas não impossível de a por em prática, haja vontade e tempo. Todas as
voltas que queríamos dar deste lado da serra concluídas, vamos descer e aportamos
até à outra vertente para subirmos para
Estrica, mais outra aldeia perdida na
serra que temos de visitar, vai-nos dar mais um sem número de imagens da
natureza e a mão do homem em diversos períodos na sua existência. Encontramos
este espaço sem ver vivalma, parecia que toda a gente tinha fugido, apenas
alguns carros parados na rua e a roupa a secar nas cordas dão a entender que
vive aqui alguém, é que nem um gato ou cão conseguimos ver ou ouvir. Até as
videiras carregadas de cachos de uvas se
encontram por apanhar, nesta altura já não servem para nada. Mais um local que
recomendamos a visitar.
Venham conhecer Portugal.
Vamos s agora até Melgaço, já conhecida por nós, mas
estamos próximo e mais uma volta não nos faz mal. Quando chegámos já era noite,
foi dar uma pequena volta que até deu para a Sofia comprar um cobertor muito
quentinho.
Depois desta volta mais uns quilómetros e chegamos a
Castro Laboreiro para dormimos e descansar da fadiga do dia de hoje.
Que haja muitos ao longo da nossa vida como este, tão
saboroso.
3-Novembro
Hoje mais uma vez amanhecemos num ambiente de província,
escusado será dizer que estamos satisfeitíssimos, tanto que o programa para
hoje já está definido há muito, é só colocarmo-nos a caminho e lá vamos nós à
descoberta de coisas diferentes e foi mesmo assim. Quando saímos do hotel
dirigimo-nos para um local que já conhecemos muito bem, mas não se perde nada se
lá voltarmos. É que há uma ponte antiga ao sair desta vila por onde passa um
ribeiro, possivelmente pode ser um rio mas neste local para nós é apenas mais
um ribeiro. Subi uma pequena ladeira e de lá tirei as tão desejadas fotos,
poderão ser em duplicado, mas dá gosto tirar mais umas em anos diferentes. Mais
umas voltas e resolvemos ir até uma delegação de turismo que veio a dar-nos
mais informações do que hoje poderíamos fazer por estes lados. Foi frutífera
esta nossa ida, pois adquirimos dados que nos vão fazer dar mais umas voltas
por locais desconhecidos e de certeza encantadores.
À saída da vila parámos e comecei a andar encosta acima
para ir visitar o castelo. A Sofia optou por ficar no carro, não se deu ao
trabalho de dar às pernocas, fazia-lhe bem andar, mas hoje está calinas, não
trouxe o seu equipamento de caminhada e ficou de volta do telemóvel a jogar os
seus joguinhos.Eu que sou um pouco cabrinha, mais cabrito, não bode, já
não, bode velho cá vou desgovernado a subir e a saltar de pedra em pedra,
cortando por vezes caminho, mas o castelo ainda nem velo. Sei que fica nesta
direcção, mais nada, não há placas nem tão pouco o trilho de passagem. O certo
é que mais alguns metros acima quando parei para tirar umas fotos vi lá ao
longe entre os penedos parte de uma muralha, olhei novamente e pensei, é pá
está muito longe, como o meu intuito é ir até lá a distância não vai ser
problema, é andar e ver que a distância vai encurtando. Depois de muito andar
encontrei um pequeno carreiro para mais adiante aparecerem umas escadas, mais
outro carreiro e ao fim de 15 minutos já tinha ultrapassado a primeira ameia
deste fabuloso castelo, fiquei espantado com o tempo que levei, porque foi
sempre a subir, ainda parei uns instantes para olhar o horizonte e descansar um
pouco.
Dentro das muralhas fui olhando e apreciando a obra que ali foi feita há
umas centenas de anos. Gosto imenso de visitar castelos e ainda mais estes onde
praticamente ninguém vai. Adorei aqui chegar, percorrendo caminhos tão
solitários, vou recordar a minha passagem por aqui. Visita efectuada, ainda
estive a telefonar para a Sofia que pedi pra se colocar no meio da estrada para
me ver acenar cá do alto, muito longe do local onde ela se encontra, foi
engraçada a nossa forma de comunicar. Agora foi só descer por vezes a correr e
passado poucos minutos já estava no ponto de partida. Ah, até tive tempo para
me enganar no caminho, para repor a direcção andei por cima de pedregulhos
enormes que me dificultaram o trajecto.
De novo juntos lá partimos para conhecer umas pontes
romanas espalhadas pela montanha, são lindas, algumas ainda com a calçada feita
com lajes enormes, por vezes com marcas das carroças de outras épocas que as
foram desgastando. O cantar do ribeiro, o sol estupendo e o silêncio, pois só
nós é que por ali estamos, é espantoso. O nosso trajecto tem sido feito por
caminhos que hoje são estradas camarárias que nos tem levado a locais
encantadores, até chegamos a um sítio onde se encontram as fronteiras dos dois
países, ali apenas umas placas a dizer “Comunidade de Galicia”, “Provincia de
Orense”, “Concelho de Entrimo”, umas casinhas do nosso lado e mais nada,
serranias e um vale extenso.
Outras das voltas, esta a pé em que fomos os dois
fazer um percurso que pensamos ser curto mas na realidade foi longo onde nos
detivemos com um aqueduto no meio da serra chamado de Aqueduto de Pontes,
construído na década de 40 do século passado pelo padre Manuel Joaquim
Rodrigues, mais umas centenas de metros fizemos pela montanha e matagais até
descobrirmos outra ponte, grandes voltas as nossas, sozinhos no meio do nada e
sem receios, apenas nós mais ninguém, pensamos nós, na volta observados por
alguém sem sabermos. Voltamos então para trás para o carro que se encontrava
bem longe. Mal tinha-mos partido e já havia outra ponte romana que ficava do
outro lado da estrada e como não podia ser de outra maneira, claro, fomos visitar,
não somente a ponte mas uns moinhos em mau estado de conservação que eram movidos
a água encontravam-se ali, as suas mós
no exterior e alguns cobertos pela vegetação que já os invadiu. O certo é que
passamos horas por estas bandas, mais tempo por aqui ficávamos mas não podemos,
temos outros locais para conhecer é com tristeza que deixarmos tão belos
lugares.
Já estamos no final do dia, pensamos visitar o palácio da
Brejoeira, ainda muito distante donde nos encontramos, vamos andar depressa porque ainda vamos ter
tempo. Assim foi, chegamos a horas, mas pouco tempo faltava para encerrar, vai
entrar a última visita de hoje. Já várias vezes tinha-mos passado aqui, mas
nunca o tinha-mos visitado, foi hoje onde fizemos uma volta por esta obra
grandiosa feita
nos confins das grandes cidades, gostei de aqui estar, pois recordo os anos 60 quando aqui estive com minha mãe, minha avó Celeste e os meus irmãos, João e Zé, recordo com muita saudade aqueles que já partiram, era eu uma criança com os meus 7 anos. Talvez nessa altura não me viesse à ideia de que um dia, passado tantos anos aqui voltasse, agora velho e saudosista.
nos confins das grandes cidades, gostei de aqui estar, pois recordo os anos 60 quando aqui estive com minha mãe, minha avó Celeste e os meus irmãos, João e Zé, recordo com muita saudade aqueles que já partiram, era eu uma criança com os meus 7 anos. Talvez nessa altura não me viesse à ideia de que um dia, passado tantos anos aqui voltasse, agora velho e saudosista.
No final da visita fomos para Reboreda, terra onde nasci
e agora vou apenas lá dormir, é assim a vida. Já não temos lá família nem nada,
apenas ver e recordar os tempos em que fui muito, feliz.
4-Novembro
Gandarela onde eles levavam as ovelhas ou vacas para pastarem, quantas vezes falamos que um dia iriamos subir o monte até à senhora da encarnação, isso nunca aconteceu, mas quantas vezes aqui venho e me lembro disso, penso que um dia ainda farei esse trajecto que me diz se isso acontecer será o meu último ano de vida. E quando ia para a escola, eu adorava andar na escola, tinha prazer, sabia, era o melhor na classe, estou a falar de quando andava na 3ª classe, nessa altura já tinha 9 anos, chovesse, houvesse frio, não era problema para mim, eu tinha de ir para a escola. Ficava muito triste quando alguém morria, mas que tristeza e quando era pessoa que eu conhecesse e se fosse uma criança!
4-Novembro
Poderei vir ou passar nesta terra que tenho sempre de dar
umas voltinhas, saudades são saudades, para mais ter aqui nascido e ter um amor
muito grande por esta terra, quando morrer não me importava nada que aqui me
enterrassem que fosse num valado ou na corte da vaca era aqui que o resto do
cangalho deveria ficar. O gostar tanto da minha terra tem muito que se lhe
diga. Eu gostava das pessoas de quando era miúdo, da família, dos colegas, da
gente que passava na rua, das árvores de fruto, eram tantas e de frutos
diferentes, da altura em que semeavam os cereais, do momento que ia com a minha
avó à noite regar os campos, quando mais tarde ia com minha mãe ou com a minha
avó ao meio do milho buscar nabiças para o jantar e quando eram feitas as
mondas, eu adorava, também era maravilhoso o ver cegar o milho, centeio ou
aveia, já não era tão lindo o apanhar das batatas. E quando chegavam as festas,
eu quase não dormia na véspera sabendo que no dia seguinte ia apanhar as canas
do foguetes, lindo ver o estoiro das bombas, a música tocada no coreto os
altifalantes que tocavam discos de música de folclore ou dum artista mais em
voga na altura, “Tirana minha tirana” “consola a nova consola a velha”, lá
estava toda a rapaziada de volta da carrinha ou camioneta que transportava a
sanfona. O que eu gostava dos pirolitos, achava que podia tirar o berlinde e
ficar com ele, também comia umas roscas que a minha mãe ou avó me comprava.
Nunca me esquecerei que por volta do ano de 1960 estava eu com outro amigo no
terreiro de Santo Amaro e encontrei uma nota de 20 escudos, apanhei-a e fiquei
muito calado, coloquei-a no bolso e lá vou eu a correr até casa para a dar à
minha mãe. Sei que 20 escudos naquele tempo era bastante dinheiro. Tantas
coisas que recordo com imensa facilidade, tais como gostar de ir com outras
crianças para o monte em Gandarela onde eles levavam as ovelhas ou vacas para pastarem, quantas vezes falamos que um dia iriamos subir o monte até à senhora da encarnação, isso nunca aconteceu, mas quantas vezes aqui venho e me lembro disso, penso que um dia ainda farei esse trajecto que me diz se isso acontecer será o meu último ano de vida. E quando ia para a escola, eu adorava andar na escola, tinha prazer, sabia, era o melhor na classe, estou a falar de quando andava na 3ª classe, nessa altura já tinha 9 anos, chovesse, houvesse frio, não era problema para mim, eu tinha de ir para a escola. Ficava muito triste quando alguém morria, mas que tristeza e quando era pessoa que eu conhecesse e se fosse uma criança!
É desta forma que gosto e gostarei desta terra linda e
amorosa onde nasci.
Hoje eu e a minha cara metade que também adora aqui vir,
ela também já foi muito feliz aqui demos umas voltinhas, voltamos a passar por
locais tão conhecidos por nós, tais como a casa onde vivia a tia Laura, também
a casa onde eu nasci e mais outros. Ainda percorremos uns bons quilómetros a
reconhecer velhos caminhos a seguir fomos até à vila visitarmos o castelo de
Cerveira. Foi desta vez que entramos e o percorremos na totalidade, nunca
havíamos feito tal visita, reparamos o estado de abandono em que se encontra a
antiga pousada, uma vergonha, é por estas coisas que se pode ver a situação
lastimosa em que se encontra uma grande parte deste país. Fomos ainda até ao
outro lado comprar uns litros de gasóleo pois é mais barato 20 cêntimos por
litro, qualquer coisita como 40$00. Pelo caminho fomos tirando umas fotos a
umas árvores, porque achamos muito graça às suas folhagens, têm cores lindas
por causa da época do ano em que estão já a secar. Também subimos até ao veado
para olhar o leito deste rio tão lindo o Minho, perde-se de vista depois da foz
em Caminha. Demos um fugida até ao convento de S. Paio pertencente ao escultor
José Rodrigues que gastou todo o seu dinheiro na sua recuperação. Caso
queiramos visitar é necessário marcação.
Desta forma concluímos as nossas voltas e vamos encetar o
nosso regresso a casa, fizemos ainda uma paragem em Vila Praia de Ancora, onde
fomos até à marginal ver a forte ondulação que estava no mar. Estava um forte
temporal com muita chuva o que fez que o nosso regresso se iniciasse um pouco
mais cedo, passamos ainda por Viana do Castelo mas não paramos seguimos até ao
Porto por estradas nacionais, algumas nunca tínhamos passado, foi lindo este
percurso, com todas estas voltas, mais tarde cruzávamos a ponte da Arrábida. A
partir daí viemos sempre por auto estrada, onde já tarde chegamos a casa com
vontade de partimos para outra etapa.