GARE ORIENTE CAMPANHÃ
COMBOIO

22 –
Fevereiro – São imensas as conversas que podemos chamar, de conversas da “treta”, que por vezes vão-se tornar realidade. Foi mais uma dessas que desta vez resolvemos andar de comboio. Esta palratório desenrolou-se há seis dias atrás. Então o Carlos começou a espiolhar as viagens de comboio para o Porto, viu também local onde poderíamos ficar alojados e uma peça de teatro para a noite da chegada, também onde poderíamos jantar e almoçar igualmente não ficou de parte. Meia dúzia de conversas pelo telefone, onde ambos concordámos, foi então resolver as horas da partida de Lisboa, alojamentos e bilhetes para o teatro. Tudo ficou decidido num espaço que não chegou às 24 horas.
Já com bilhetes de combóio, teatro e alojamento do hotel, 5 estelas, foi só combinar a hora de nos encontrarmos na estação de combóio na gare do Oriente e apanharmos o intercidades nº 721, 2ª classe, carruagem 22, lugares 92, 94, 96 e 98, que vai sair às 9h39 e chegada prevista a Campanhã pelas 12h43.
A nossa saída da Tapada foi sem pressas para chegarmos à porta dos amigos Carlos e Júlia, sitiados na Av. de Berlim a poucos metros da estação do Oriente e a horas de fazermos a caminhada até à estação. Percorríamos a 2ª circular e por volta da estação de Calvanas estava a Sofia a ligar para a Júlia a informá-la de que já nos encontrávamos perto. Os poucos quilómetros que teríamos de fazer foram percorridos num instante e quando chegámos já a Júlia estava a indicar-nos onde estacionar o nosso carrinho. Cumprimentos do costume e colocarmo-nos a caminho. Esta uma caminhada curta, chegados à estação encaminhamo-nos para o cais de embarque. Poucos minutos esperámos e, entretanto, chegou o desejado comboio. Notámos que havia muita gente para embarcar, para nós foi uma enorme surpresa, porque não fazíamos a menor ideia de que haveria tanta gente a viajar de comboio. Agora já sentados nos lugares marcados, começou a nossa viagem de comboio. Todos nós, os presentes gostam de andar de comboio, é que não nos cansamos nem nos aborrecemos de tal acto.

O comboio é
dos mais antigos transportes que nunca perdeu a moda, muito seguro, rápido,
confortável e familiar, tantos predicados que existem para o elogiar. Nos
primeiros quilómetros fomos permutando palavras e conversas curtas, pois os
dois casais estavam separados, uns dum lado outros opostos, não era assim tão
linear as conversas, tanto que o resto dos passageiros vizinhos, nada teriam a
ver com aquilo que podíamos dizer. Já no Entroncamento vimos a infinidade de
carruagens e máquinas que ali existem, umas estacionadas, outras em via de
reparação. Sei lá mais o quê! Sem dúvida um entroncamento de muitas linhas e
composições. Passada esta estação aí vamos a caminho de Coimbra onde também
parámos em Coimbra B, aqui subsistem obras e serão concretamente para quê,
ampliação da estação, obras de restauro, não nos pareceram de ampliação para o
novo trajecto da linha do norte de alta-velocidade, nem podemos pensar. Esta
será como tantas outras, uma obra para durar décadas, as obras de “Santa
Engrácia”. Partimos de Coimbra com rumo ao Porto, mais umas paragens para
finalmente passarmos por Gaia e atravessarmos a ponte concluída há alguns anos
pelo Eng.º Edgar Cardoso um visionário na minha maneira de ver. Já em Campanhã
foi sair do comboio e decidirmos como íamos para o centro ou outro lugar da
cidade.

Achamos que fazer o percurso a pé era o desejo de todos e aí vamos pé
ante pé pela rua do Heroísmo para seguidamente alcançarmos a Avenida Rodrigues
Faria, onde a meio começamos a pensar em almoçar, sucedeu que o restaurante
eleito seria o ”Xico dos Presuntos”, mas este tinha as portas fechadas,
pensamos mesmo que tinha encerrado, mas não. Os nortenhos resolveram estarem
encerrados neste dia porque sondaram que quatro morcões vinham invadir a
cidade. Não ficamos chateados e quando chegámos à Praça dos Poveiros,
imediatamente conseguimos lugar na Casa Guedes. A verdade é que não comemos
nada de especial, eu vinha com o apetite de que ia comer uma ou duas sandes de
presunto no Xico, foi suficiente para reduzir o meu apetite. Fizemos mais umas
voltas para irmos para a nossa casa alugada que fica a 100 metros do centro da
cidade. Esta situada no Largo da Lapa e conhecida pela “Casa da Lapa”.

Antes
havíamos telefonado para a sujeita que tratou do aluguer. Tantas coisas más
poderia começar a escrever sobre este logradouro, estou a usar este termo porque
de casa pouco tinha, quartos minúsculos, separados por paredes feitas em gesso
cartonado, camas tipo tarimba, televisão minúscula colocada quase no tecto, um
aquecedor muito velho, janela não tinha, casa de banho uma autêntica quemua, as
roupas da cama do mais barato, já um pouco delidas. Como é só uma noite que se
lixe. A realidade é que já dormimos poucas vezes em situações destas, mas foi
em África no Ruanda e América do Sul em El Salvador. Agora a nossa cidade do
Porto ter locais destes não lembra ao diabo. Lá deixamos as mochilas e saímos
para visitar a igreja da Lapa, local onde se encontra o coração do rei D. Pedro
IV, doado pelo próprio à cidade do Porto, como forma de reconhecimento da
vitória de seu irmão no cerco do Porto de 1832 a 1833. Encontra-se depositado
num mausoléu com 7 metros de altura. Para efeito de determinadas cerimónias são
solicitadas ao presidente da câmara do Porto que guarda religiosamente no seu
gabinete a cedência das 5 chaves para poderem abrir o relicário.

Situação
sarcástica para esta época em que nos encontramos. Fomos até ao mercado do
Bolhão, também uma porção valiosa da cidade, mais voltas e revoltas e chegou a
noite e está a aproximar-se a hora de irmos a pé até ao Teatro Sá da Bandeira para
assistirmos à peça “Cama para 4” com protagonistas como o Carlos Cunha, Erika
Mota, David Carronha e Carla Janeiro. Muito engraçado em que o enredo estava
fantástico. Eu gostei, mas os restantes elementos do grupo foram unanimes em
dizerem-me que eu não me ria e que não devia ter gostado, mas não é verdade,
gostei mesmo. Foi uma boa aposta do Carlos Neves em irmos assistir ao desenlace
da estória. Terminada a sessão, foi regressar aos aposentos vergonhosos,
situados do Largo da Lapa.
23 – Fevereiro – O
despertar foi um desespero, pois água quente não havia nem no nosso quarto nem
do Carlos, a fúria iniciou-se. Depois de várias tentativas em telefonar para a
dita senhora que nos tinha atendido no dia anterior saíram frustradas.

Se por
acaso existisse telefone, imediatamente entraríamos em contacto com a recepção,
mas nada disso existe. Tive de me vestir e ir à procura da fulana para resolver
o problema. No andar onde nos encontrávamos não havia ninguém para nos atender,
fui andando e encontrei uma escada que me levou ao piso por cima de nós. Depois
de tanto chamar lá apareceu um homem maltrapilho e sonolento. Disse-lhe o que
se estava a passar e de imediato foi-me dito que não era possível não haver
água quente. Desceu as escadas e entrou num cubículo onde se encontrava o termoacumulador
de pouca capacidade, se não estou errado pareceu-me que o homem disse 15
litros, ou seja, dava para se lavar uma pessoa e pouco mais. Esteve de volta
dele e disse que não encontrava nada de mal e que nunca tinha acontecido tal
situação, no entanto mais umas voltas nas torneiras e conclui que algo estava
errado e que não conseguia resolver o problema.

A verdade é que fomos parar
numa residencial do mais rasca que se pode encontrar. Ficamos sem tomar banho,
lavou-se os dentes e pouco mais, a banhoca usual fica para amanhã quando
chegarmos a casa. O Carlos mencionou que no quarto deles existia um aquecedor
que ligado faz um enorme chavascal. Quando viemos embora tranquei a porta e trouxe
as minhas chaves de danado por me sentir enganado, coloquei-as no cesto do lixo
que se encontrava no corredor. Mais tarde arrependi-me de as não ter colocado
na rua num dos contentores do lixo. Na volta quando deitarem o lixo fora
daquele balde, nem vão ver que as chaves se encontravam ali. Já fora da
pocilga, fomos tomar o pequeno almoço num café de um morcão portuense. Demos
mais umas voltinhas até que resolvemos ir de metro até Matosinhos. Foi
engraçado o trajecto deste transporte a maioria do percurso feito à superfície
o que nos possibilitou ver outros locais desta cidade do Porto bem como
Matosinhos. Assim que chegámos fomos intentados em visitar o terminal de
cruzeiros, mas não o fizemos porque não havia cruzeiros ancorados, mas em sua
substituição fomos caminhar até uma parte deste imenso porto de Leixões e
resolvemos ir visitar o “Titan”, o maior guindaste a vapor do mundo que foi
utilizado na construção do porto de Leixões no século XIX, agora recuperado.
Este em 2012, já se encontrava num elevado estado de degradação. Todos
admiramos esta obra feita por portugueses de outros tempos que idealizaram e
construíram este monstro feito em ferro movido a vapor. Aproximou-se a hora do
almoçar e a oferta de bons restaurantes nesta zona é imensa. O restaurante que
saiu na rifa foi o “Dom Peixe”, situado na Rua Heróis de França, 241 em
Matosinhos. Todos escolhemos peixe um deles o rodovalho grelhado para mim e
para o Carlos a Sofia ficou-se pelo arroz de camarão com ameijoas, por fim a
Júlia optou também com arroz, mas este de tamboril com camarão. Finalizamos com
boas sobremesas e um café para encerrar a degustação.Agora de regresso ao
Porto novamente de metro. Fomos dar mais umas voltas por esta cidade já bem
conhecida de todos nós para que ao final do dia fossemos para a estação de
comboio de Campanhã, onde ainda comemos num tasco alguma coisa, não mais do que
bifanas, isto antes de entrarmos no comboio que nos levará até Lisboa. O
regresso vai ser feito no inter-regional nº 820, classe única que vai sair às
19h54. Chegou, entretanto, a hora de partimos e eis que passados poucos minutos
o comboio parou uns quilómetros a seguir a Vila Nova de Gaia, onde permaneceu longos
minutos para retomar o trajecto em marcha lenta por mais algum tempo. O nosso
pensamento surgiu a questão, mas a que horas vamos chegar a Lisboa? Quando
olhei para as horas encontrávamo-nos mais de meia-hora atrasados. Entretanto
retomou a marcha e reparámos que a velocidade era alta. Resultado toda aquela
velocidade era para repor o tempo perdido. As paragens foram as que faziam
parte do percurso, para finalmente chegarmos à estação do Oriente por volta da
meia-noite. Fizemos o percurso a pé até à nossa viatura que estava estacionada
perto da casa do Carlos. Com isto mais uma viagem espectacular, desta vez de
comboio, ficamos todos com o desejo de não ser a última em andar de comboio no
nosso Portugal. Vamos todos ficar à espera da próxima.