CAFÉ
TURCO
FUGA
ATÉ À
CAPADÓCIA
9 Abril – Estas férias ou fuga até à Capadócia tomar um café Turco, eram imprevisíveis, não havia qualquer programa elaborado com antecedência, absolutamente nada. Eis que um dia recebi uma carta do Círculo de Leitores onde sou sócio desde Junho 1971, nessa altura comprava apenas um livro de três em três meses tinha na altura 18 anos de idade, ou seja meio século atrás. Esta carta era um convite elaborado para sócios em que propunham uma viagem pagando uma módica quantia. Fiz um primeiro telefonema a colocar umas tantas questões e fiquei logo comprometido com tal passeio. No entanto tenho dois amigos há alguns anos que com certeza poderão estar também interessados em enveredarem pela excursão. Então mais um telefonema, desta vez para o Carlos a fazer-lhe o convite, não ia esperar outra coisa senão um sim, todas as explicações transmitidas e agora só falta mais um telefonema para o CL a informar que há mais dois convidados, desta vez da minha parte e se podem ser englobados como meus familiares, chamada concluída com êxito, agora é só pagar e esperar pelo dia 9 de Abril, é que já faltam poucos dias para a nossa partida. Então, ficou tudo tratado, papelada, data e restante pormenores. Um detalhe, também relevante é que o governo Turco subsidia estes passeios para levar turismo para a sua terra, assim uma das razões de custo tão reduzido.
Hoje é o dia da partida, combinamos encontrarmo-nos no aeroporto da Portela para embarcar num boeing 737-800 da companhia aérea Sun Express com destino a Antália. Não conhecíamos tal companhia e se por acaso o avião teria sido comprado numa campanha de saldos, pois coisas baratas ou de graça já não existem. Já todos a tratar dos trâmites de embarque, verificamos que os passageiros daquele voo são do círculo de leitores, não me passou pela cabeça que ia encher só com pessoas desta organização. Lá fomos então para o cais de embarque para entrarmos no avião e de seguida sentarmo-nos comodamente e seguirmos com as nossas conversas de ocasião. Pouco tempo depois a aeronave estava a fazer-se à pista e a grande velocidade começou a levantar voo, sobrevoando a linda cidade de Lisboa que a vamos vendo a nossos pés, até daqui a dias, aqui estaremos a fazer o inverso. Fomos ouvindo música comemos um pequeno lanche e assim chegamos ao destino passadas poucas horas, viagem agradável e estamos na expectativa do percurso que iremos fazer, porque temos pouca documentação que nos elucide do programa que se advém. Desembarque efectuado e assim seguimos de imediato para uma zona onde se encontravam uma série de autocarros todos identificados com as siglas do círculo de leitores. Toda a gente embarcada e lá segue para um hotel nos arrabaldes desta cidade de Antália, cidade moderna e turística com um porto repleto de iates, lindas praias e ruínas da época romana onde existe a porta de Adriano, construída em homenagem à visita do imperador no ano de 130 e a torre de Hidirlik do século II.
Assim chegou a hora de almoço, tal o nosso espanto, pois este e os próximos almoços não estão incluídos no pacote da viagem, somos nós que temos de acarretar tal despesa. Fomos informados que os valores são económicos, mas tivemos outra opção e borrifamo-nos para não irmos almoçar no restaurante por eles elegido.
A maior parte do grupo foram almoçar no restaurante designado pela organização, sucedeu que foi almoço para mais de duas horas e nós fomos parte do prejuízo pois tivemos de estar à espera que se despachassem, havia informação de que 90 minutos era o tempo despendido.
A tarde estava destinada para visitarmos o mercado de Antália, fomos todos ver e comprar umas bugigangas, comprei umas tâmaras que estavam uma delícia. A Júlia optou por maças e laranjas. Ficamos a conhecer a imensidão deste mercado onde se vende tudo e existe abundância e qualidade em todos os produtos que vimos. Aqui se vendem, vegetais, frutas, aves, peixe, carne, etc..
Demos mais uma pequena volta pela cidade e regressarmos ao hotel para nos distrairmos pelos jardins deste e outros afazeres desfrutámos, assim concluímos os passeios de hoje.
11 abril – Hoje o nosso percurso vai ser de 354 km em autocarro entre Antalya e Konya passando pelas cordilheiras do Tauro, calculo que irão ser umas boas horas de caminho. Partimos muito cedo, e percorridos alguns quilómetros já nos encontrávamo-nos a subir as primeiras montanhas em que eram visíveis um tipo de pinheiro conhecido pelo cedro do Líbano, para posteriormente começarem aparecer os primeiros montes de neve e mais adiante estar tudo branco, agora sempre a subir e os quilómetros iam ficando para trás. Num dos cumes havia uma placa a informar que estávamos a 1825 metros de altitude, mais uma hora e iniciamos a descida, começam aparecer os vales a neve deixou de se ver e as estradas melhoraram, seguiram-se enormes rectas e vimos que durante umas dezenas de quilómetros os campos estavam a ser lavrados, já muito longe avistamos muitos tractores uns ao lado dos outros a lavrarem e questionámos até onde iam, foi a razão de termos visto quilómetros atrás toda aquela terra lavrada, é isto agricultura perfeita e combinada. Chegou a hora do almoço em que a cena repetiu-se, desta vez havia mais pessoas que não quiseram almoçar no restaurante proposto pela organização e foram para outros locais. Como sempre não houve pressa e o tempo foi imenso, assim estivemos à espera que as pessoas que foram almoçar no local da organização viessem pachorrentamente para o autocarro. Quando partimos para a última etapa de hoje poucos minutos tinham passado e estava quase toda a gente a dormir. O sol a entrar pelas janelas e depois
de tão vasto repasto as bestas dormiam. Nós continuávamos a falar a lermos e a olhar para a paisagem e a observar a quantidade de vacas que pastavam em prados a perder de vista, até que finalmente chegámos a Konya situado na Anatólia Central, foi aqui que viveu o império Hitita no século XIII a.C. O ícone desta cidade é a mesquita Haciveyiszade que fomos visitar, foi neste lugar que mais uma vez a madre Júlia, uma santinha, orou para correr com os seus pecados mundanos, outras beatas tiveram a mesma atitude, quem estivesse apreciar tal acto como eu, veriam os pecados todos a fugirem pelo portão enorme, este foi feito mesmo com essa finalidade. Esta cidade tem imensos monumentos, mas o tempo é pouco, fizemos mais umas visitas para finalizarmos no grandioso jardim florido nesta altura do ano. Acabamos o dia maravilhoso no hotel Dündar com um jantar fantástico e ainda podemos ver um pequeno espectáculo de “dervishes rodopiantes”, uma pequena amostra, ou seja a cavalo dado não se olha o dente.
12 abril – Hoje o nosso destino é a Capadócia, mas antes vamos fazer uma pausa em Sultanhani-Kervansaray. Em tempos remotos era uma das paragens mais importantes nas rotas das caravanas da idade média, foi decaindo por causa dos portugueses quando descobriram o caminho por mar até às Índias, este local também foi outro marco da história por causa da batalha de Sultanhani ou batalha de Aksaray em 1526 onde o exército mongol sob o comando de Baiju derrotou os Seljúcidas. Aqui vimos muitos objectos que nos eram totalmente desconhecidos, utilizados nas
épocas das caravanas o que nos fez pensar para que serviriam alguns desses utensílios, não conseguimos saber. Visita concluída, partimos para a próxima paragem na Capadócia, ficamos encantados pela paisagem, assim que paramos começamos à descoberta, caminhamos e como somos mesquinhos quisemos averiguar tudo, mais parecíamos crianças subindo e descendo as construções feitas pela natureza e modificadas ou adaptadas pelo homem. A maioria destas construções é conhecida por chaminés de fadas com cores castanhas e por vezes cinzentas fazem deste sítio um local lindíssimo. Depois da nossa entrada triunfalfomos até Göreme uma vila desta região histórica em que a paisagem se caracteriza por diversas formações de tufos formados pelas erosões dos ventos em que primeiramente as erupções vulcânicas de há milhões de anos deram origem a um imenso manto que se iria transformar. Muito caminhamos durante horas por vales e montes, entramos em construções muito antigas onde habitaram povos de outrora, outras que ainda hoje fazem também parte de habitações dos nossos dias, com tantas andanças ocasionaram. No final do dia estávamos cansados mas ainda fomos um pouco adiante até Paşabağlari onde são mais visíveis e as melhores chaminés de fadas com formas diferentes em forma de cones, cogumelos ou outras formatos que a nossa imaginação possa conceber. Aqui existe
uma capela talhada numa dessas chaminés dedicada a S. Simeão. À noite mais um espectáculo para turista no hotel, foi bastante engraçado e aproveitamos para nos divertir. Amanhã vamos ter outro dia de andanças por estes lados.
13 abril –Hoje continuamos a explorar mais locais da Capadócia, iniciamos por
visitar Çavușin, uma vila pacata que tem muitas casas escavadas nas rochas, muitas delas abandonadas. No topo de uma falésia que se eleva sobre uma aldeia pode-se observar a famosa basílica de S. João Baptista que remonta ao século V, esta é uma das maiores igrejas escavadas da rocha. Foi para lá que nos dirigimos e deparamo-nos com uns enormes arcos, valeu a caminhada para apreciar uma obra com 1500 anos em bom estado de conservação. Numa das ladeiras que passamos havia um pequeno carreiro em terra um pouco ingreme, a Sofia apostou que conseguia descê-lo, desceu, pois claro mas no final escorregou e foi com o rabo à terra, lá tive que lhes dar umas sacudidelas no rabo para tirar a poeira acumulada.
Mais uma caminhada até ao vale de Derbent que mais parece uma paisagem lunar, não será esta uma imaginação minha, porque nunca estive na lua para fazer esta afirmação. Existem muitas formações rochosas diferentes neste vale que fazem parecer figuras que nós assemelhamos a animais ou objectos, aqui as chaminés de fadas são mais pequenas do que em outros locais. Um pouco adiante entrámos em Üç Güzeller onde vimos mais umas chaminés de fada, um conjunto delas chamou-nos atenção, parece uma família composta por pais e três filhos. Lá ao longe conseguimos avistar o vulcão Erciyes com as suas encostas cobertas de neve. De seguida fizemos mais um percurso, desta vez de autocarro e fomos parar a uma fábrica de tapetes Turcos, calcula-se porquê, incentivar o turista a gastar dinheiro, nós, não compramos nada mas ainda ouve alguém que foi carregado com umtapete. Deram-nos uma visita guiada por toda a fábrica mostrando toda a fase de fabricação e a oferta de uma café turco, mais borras do que café. Partimos para Kaimakli uma das cidades subterrâneas que data do ano 1200 AC, muito velhinha, assim que ingressámos, começamos a percorrer corredores estreitos e descemos um, dois três por fim estávamos no 4º andar abaixo do solo, tantos recantos, salas e quartos e sítios onde se recolhiam animais, também locais de trabalho. Grande estrutura esta que reflectimos como seria respirar nestes sítios cheios de humanos e animais, reparamos que existem saídas de ventilação, mesmo assim o ar deveria ser rarefeito quando nos situamos uns bons metros abaixo do solo. Era assim que se poderia viver com alguma segurança, fugindo muitas vezes de outros povos. Foi-nos dito que estes povos cozinhavam de noite para que não houvesse fumo e se aventurassem a serem descobertos. A comida deveria durar dois a três dias para que não fosse uma actividade quotidiana. Existem corredores ou escadas tão estreitas que os gordos de hoje não conseguiam passar. Este foi um passeio tão
extenso que se prolongou por uma hora, não tivemos pressa, apenas o horário estabelecido pelo guia que deveria ser respeitado, se não fosse este o caso teríamos lá estado muito mais tempo, foi de veras divertido. Seguimos para Üçhisar, nome que significa três fortalezas, outra vila desta região sendo esta umas das localidades mais típicas com o seu casario que se confunde com a paisagem rochosa, sendo o ponto mais alto com os seus 1300 metros de altitude, várias civilizações aqui viveram aos longos dos séculos fugindo sempre e acabando por desertar, dando origem a novos inquilinos, o humano sempre viveu e
viverá a ocupar propriedade alheia, até quando! Um dia vai ter de aprender, já pode ser tarde. A fortaleza é um labirinto onde se encontram habitações, mosteiros,
armazéns, etc., ligados por uma rede de galerias empilhadas por vinte andares, lá bem no alto encontram-se sepulturas romanas, algumas destas habitações trogloditas ainda são habitadas. Vamos a mais uma estirada por hoje até ao Vale de
Avcilar, mais um local cheio de esculturas de pedra vulcânica feitas e esculpidas pela água, gelo e vento. Finalmente chegou o final do dia e o regresso ao hotel é imprescindível para o merecido repouso e o desejado jantar no hotel Yiltok que é aconchegador e localizado num espaço fantástico.
14 abril – Para quem vem à Capadócia e não ande de balão é frustrante ver uns bem lá no alto a voarem e outros em terra a vê-los, com pena de não terem ido ou medo e quem sabe, falta de dinheiro. Mas o Carlos, Gilberto, Júlia e Sofia foram mesmo voar. Também é importante saber-se que nesta viagem havia muitas despesas que não se encontravam incluídas, uma delas a viagem de balão. Negócio em cima de negócio, esta e outras viagens pela Turquia, há sempre um senão porque as pessoas são sempre empurradas para um cem número de negócios emparelhados que estafam e estropiam os mais incautos, já conseguimos fugir a alguns mas este de andar de balão é muito dispendioso e só porque nenhum de nós tinha tido este privilégio optamos em ir por um valor fastigioso, chamo-lhe uma usurpação. Neste dia a alvorada foi muito cedo, ainda no romper da aurora e já nos encontrávamos acordados, pois a nossa presença bem
cedo no local é imprescindível. Chegados ao vale onde dezenas de balões moribundos esperam pelos papalvos, grandes movimentações e arranca e não arranca, estivemos no mínimo duas horas á espera que alguns começassem a voar e outros esperaram por melhores ventos, foi o que aconteceu connosco, fomos dos últimos, é que fomos quse os últimos a levantar depois de várias tentativas, esta demora deveu-se às fortes correntes atmosféricas que estavam a ocorrer. Então balão cheio de ar quente injectado por enormes máquinas que queimam dezenas de litros de gás que são arremessados para dentro do gigante balão que vai transportar 25 pessoas. Chegou a hora da partida, tudo para dentro da barquinha e começamos a subir, começa a sensação encantadora de voar desta forma, iniciámos o percurso por locais onde já estivemos em terra, a maioria do percurso foi sobre os vales de Avcilar e Derbent é lindo ver
esses lugares cá do alto, todos os ocupantes deliravam, não havia sinais de perigo, houve momentos que atingimos uma altura muito alta até houve outros momentos que quase roçávamos os montes mais elevados, tirar fotos cá de cima é espectacular, apenas o espaço que temos para movimentar-nos é escaço, porque 25 pessoas dentro da barquinha é excedente, no recanto onde me encontrava mesmo assim consegui tirar algumas fotos fantásticas. Passados 50 minutos do passeio, chegou a
hora para pousar, mas sucedeu que apanhamos uma corrente de ar mais forte, fomos levados para fora do espaço estabelecido para pararmos, andamos muito tempo à deriva, só víamos os jipes da companhia com os outros auxiliares para ajudarem na aterragem acompanhar o balão, nós víamos com a dificuldade que o piloto ia fazendo as manobras, Este comunicava com outros elementos que se encontravam em terra e recebia algumas instruções como proceder, estas infrutíferas e andamos mais uns quilómetros até que o vento amainou e paramos com segurança no meio de uns campos de cultivo. Eu gostei e nunca vi qualquer perigo eminente, só ganhamos, porque voamos muito mais tempo do que os restantes balões, realmente tivemos um voo de 1h22m, fantástico, bem merecemos, posso dizer que assim o voo saiu-nos mais económico. Terminado o voo deramr por terminada a nossa visita à Capadócia saindo pelo vale de Güvercinlik em direcção a Horozluhan arredores de Konya onde fomos almoçar, depois do repasto seguimos viagem através da cordilheira do Tauro até chegarmos a Antália no início da noite. Ficamos alojados no hotel Siam Elegance ou seja o melhor alojamento que tivemos durante estes dias.
15 abril – Iniciamos este dia visitando uma fábrica de transformação de curtumes, toda a saloiada presente e começa o desfile de modelos vestindo lindos casados de pele, são tantos os modelos de casados, calças e vestidos que cada passagem tem um número para que as pessoas tomem nota caso estejam interessados nalgum deles. A propaganda é de tal ordem que a certo momento desfilam com a bandeira Portuguesa, isto para impressionar, palmas, sorrisos e falatório. No final a Sofia gostou de um deles, casaco comprido vermelho que inicialmente pediram um preço para turista, no entanto foram baixando, mas nunca chegando ao valor que nós idealizamos, já não seria pechincha mas um preço que seria correcto. Para produto Turco era um exagero tal valor. Seguidamente fomos visitar o museu arqueológico de Antalya um dos maiores da Turquia para depois seguirmos para o centro da cidade, um dos locais que entramos foi numa mesquita onde este devotado foi orar para todos os fiéis acompanhantes, outras voltas demos por esta linda cidade. Passamos perto de um engraxador, aproveitei para engraxar os meus idóneos sapatos que já correram meio mundo e preparados para durarem mais uns tantos anos, tenho de os poupar porque como estes nunca mais terei outros, peça de museu. Passamos por uma pequena obra onde dois trabalhadores trapalhões estavam a inventar uma forma de colocar uma escada encavalitada num andaime, possivelmente algo irá correr mal. Ainda dizemos que são os portugueses que inventam formas de mitigar, estes dois não serão cá da nossa terra, ou já estiveram em Portugal. Caminhamos pelos bairros antigos conhecida esta zona como a Kaleici entre ruelas e pequenos negócios, foi mesmo caminhar no tempo. Mais
abaixo fica a marina que também lá fomos veranear entre muralhas e embarcadouros para admirar as embarcações ali ancoradas a maioria são barcos tipicamente turcos. Passamos a totalidade do dia nesta cidade em que percorremos grandes espaços para a conhecer melhor, por fim cansados regressamos ao hotel para prepararmos as malas, pois amanhã será o dia da partida.
16 abril – Pronto chegou a hora da partida, foram uns dias muito bem passados, usufruímos de todas as ocasiões, ficamos com saudades e dissemos; um dia havemos de voltar pois a Turquia tem muito para nos dar.
Até ao próximo regresso Turquia.
Sem comentários:
Enviar um comentário